sábado, 21 de novembro de 2009

A entrevista de Paulo Bento



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O que é correu mal nestes quatro meses para sair do Sporting?
Vários factores. Houve, desde o início, uma pressão muito grande sobre a equipa, que acabou por tolher a qualidade de jogo e a confiança dos jogadores. Devido à pressão da massa adepta, em função dos resultados, e por outros factores mais externos, que têm a ver com a forma como o velho rival do Sporting foi andando. Mas também houve pressão interna...

De quem?
Gente com responsabilidades, como o presidente da Mesa da Assembleia Geral da SAD, o doutor Rogério Alves, com algumas declarações que me pareceram fora da sua função e que levam a um clima de maior pressão. Após o jogo com o Marítimo, teve declarações que não trouxeram qualquer benefício para o grupo, que não foram correctas, porque há coisas que se podem tolerar e outras que não devem ser toleraras. Uma pessoa com a responsabilidade dele, não podia, nem devia, ter dito o que disse. Quero acreditar que isso não tem a ver com o que eram os desejos e objectivos dele no clube. Depois, o Sporting é, se calhar, o único que tem uma associação de adeptos, que tem lugar no Conselho Leonino e com o seu vice-presidente atrás de uma baliza, bem vestido, a insultar os jogadores. Não me parece nada normal. Parece-me coisa de gente que se quer servir do Sporting.

O presidente sabe quem são essas pessoas e o que deve fazer?
Não sei se os identificou. Se parar o caminho que encetou, terá mais dificuldades. Se o continuar, vai conseguir ser o que é: sério, frontal e corajoso. Espero que não perca essa coragem. É inteligente para saber de quem se rodeia e vai ter de ter cuidado com alguns abutres que andam à sua volta.

O que faltou para ser campeão como treinador do Sporting?
Faltou maior capacidade da nossa parte, em alguns momentos. Em 2006/07, alguma sorte e sobrou-nos a incompetência de outras equipas. Falo de arbitragens.

Disse que esteve quatro meses a mais. Sentiu o seu trabalho minado?
Não. Estive quatro meses a mais por uma questão cultural, porque o futebol português não está preparado para tanta continuidade. Conseguimos fazer com que o Sporting voltasse a ganhar e a ter princípios. Mas devia ter parado no final da época, por todo o contexto que iria ser criado a seguir, para atingir o treinador, o director-desportivo e o vice-presidente. Não é normal ter gente a pressionar no início da época, quando, no caso do Twente, atingimos o objectivo. Tive o cuidado de alertar, internamente, até os jogadores, de que estava criado um cenário prejudicial. Resultou nestes quatro meses de grande pressão, criada por gente interna. Oxalá o presidente tenha coragem de os denunciar e que esta situação sirva para alguns serem descobertos.

Referiu a existência de um complexo de inferioridade. De quem, em concreto?
Nunca ouvi nenhum jogador, nem ninguém da estrutura, dizer que estava satisfeito com o segundo lugar. O nosso rendimento e resultados foram sempre desvalorizados. O Sporting era segundo porque havia demérito do Benfica, e não mérito nosso. Era a opinião da Imprensa e de muita gente do Sporting, que agora se está a revelar. Existe um complexo de inferioridade, exponenciado pelo que o Benfica está a fazer esta época.

Tendo em conta esse sentimento, o Sporting tem estofo para ser campeão?
Tem estofo e tentou sê-lo neste tempo. O Sporting tem oito títulos desde 1958, logo, o estofo foi diminuindo. Entre 1982 e 2000, não sei se existiu, sei é que não houve títulos. Depois, há os que se deprimiram por só ganharem taças. Nós tentámos que essa cultura, exigência, disciplina e rigor estivessem presentes e, por isso, conseguimos lutar com uma equipa tetracampeã e superar outra equipa, que investiu muito mais do que nós. Se calhar, foi por querermos implementar esses valores que tivemos problemas.

O Sporting precisa de ser mais agressivo e unido enquanto estrutura para poder ser campeão nacional?
Os que estão no clube e que não gostam que a SAD seja um espaço fechado, porque gostam de mandar o seu palpite, acabam por minar o trabalho da SAD. Quando a SAD tiver capacidade de calar e expor essa gente - alguns de fora e outros que estão lá dentro, como o doutor Rogério Alves, que queria um poleiro maior -, vai ter o trabalho mais facilitado.

Quando soube que tinha de sair?
Depois do jogo com o Marítimo. Tomei a decisão com a família e equipa técnica, depois de me aconselhar com o Rui Jorge.

Esperava que as coisas chegassem ao ponto a que chegaram?
Não. Não pelos jogos que perdemos, Braga e Dragão, mas pela forma como não ganhámos e pelo sofrimento que tínhamos para vencer. Não esperava que as coisas corressem tão mal.

Teve conflitos com Stojkovic, Liedson, Vukcevic e Miguel Veloso. Não foram demais?
Não. Os que aconteceram foram resolvidos a favor dos interesses do Sporting. E depois dos jogadores. Os casos de Miguel Veloso e Vukcevic resolveram-se porque se focaram no que tinham de fazer. O mérito é deles. Depois, houve outros problemas em que os jogadores em causa, no momento da saída, tiveram as palavras que estão gravadas. O Sporting, por ser o clube dos doutores, aqui no mau sentido, é muito liberal, por todos gostarem de falar ao microfone - já disse que não são cornetos -, o que leva a mais problemas.

Izmailov, Derlei e Polga fizeram falta?
Izmailov é extremamente importante. Este ano, essa ausência foi mais notada. Derlei, na parte desportiva, fez-nos falta pelo rendimento, maturidade e relação de jogo que tinha com Liedson, mas entendo que o Sporting não tinha condições para satisfazer as suas pretensões financeiras. Polga não estava com rendimento igual, mas, mesmo com limitações, físicas era suficiente.

Que comentário lhe merece a escolha de Sá Pinto para o futebol?
Estava noutras funções dentro do Sporting e vai fazer algo de que estava à espera, se calhar, um pouco mais cedo. Mesmo sendo um consultor externo, trabalhava de alguma forma internamente, ou pelo menos tentaria. Comigo, naturalmente, não estaria no futebol. Pode dar algum respaldo, devido à imagem que tem junto a uma franja de adeptos, e alguma tranquilidade ao presidente.

E a escolha de Carlos Carvalhal?
A única coisa que lhe desejo é sorte. Depois, espero que haja paciência e espaço para trabalhar. É uma escolha do presidente e espero que possa ter continuidade.

Quais os momentos que lhe deram maior satisfação nestes quatro anos?
Os títulos ganhos. Fazer parte de uma estrutura competente, solidária e exigente. Ter grupos disciplinados, com carácter, conseguir uma cultura de treino, ajudar na formação de alguns jogadores e potenciar o rendimento de outros. Fica a mágoa de não ter sido campeão. O pior momento foi a eliminatória com o Bayern.

Quando pretende voltar a treinar?
A ideia é não treinar até ao final da época. Quero esse tempo para a família e amigos, mas nunca se sabe o que pode acontecer...

Em Portugal ou numa liga estrangeira?
Há que avaliar os projectos, não os procuro. Há-de chegar a oferta. Não tenho preferência por Portugal, nem nenhuma obsessão de ir para outro grande, selecção nacional ou estrangeiro. Há outros clubes interessantes.

Disse que não queria sair do Sporting directamente para outro grande clube português. Admite treinar o Benfica e o F. C. Porto?
Esses dois clubes estão na mesma medida de todos os outros de que falei."


Entrevista de Paulo Bento ao jornal 'Record' três semanas após a sua demissão do Sporting.

Vídeo:

Um comentário:

Luis Anselmo disse...

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